domingo, 15 de março de 2009

Charles Chaplin: Monsieur Verdoux.




É difícil escolher um filme de um dos maiores diretores de todos os tempos: Charles Chaplin. Aqui fica somente a indicação: Monsieur Verdoux [EUA/1947]. Neste filme, as referências que qualquer cinéfilo - ou não - facilmente caracterizariam como sendo de Chaplin, não estão presentes. Já não é mais Cinema Mudo, e não é estrelado pelo "vagabundo" Carlitos, o que por outro lado entendo, nesse momento, senão a maior, é pelo menos uma das maiores interpretações de Chaplin.
Mas engana-se quem pensa que Verdoux e Carlitos são personagens diametralmente opostas, como explicitou bem, o crítico francês André Bazin¹, "Verdoux é um Carlitos que ousaria desafiar o mundo". Carlitos é bem identificável, nesse filme, por exemplo, na cena em que Verdoux vai pescar com Annabella Bonheur [Martha Raye] onde cada vez que uma de suas várias tentativas de homicídio se frustram, se retrai num gestal muito próximo ao do "vagabundo".
Fazendo um panorama geral do filme e atentando não revelar informações que poderiam tirar a vontade de assistí-lo. O filme se desenrola pelos idos da década de 20, do século passado, em que Henri Verdoux, francês, bancário, desempregado após 30 anos de trabalho, passa a desenvolver maneiras - golpes, delitos e etc - para conseguir dinheiro e aplicar no mercado financeiro, mantendo a esposa paralítica e um filho, que não os vê frequentemente pois passa a maioria do seu tempo com sua vida de Barba Azul e suas outras mulheres [sim, outras mulheres] em atonitas viagens de um canto para outro.
É aqui que um aspecto técnico ganha destaque e caracteriza bem o cinema de um grandíssimo cineasta. Para ilustrar as sucessivas viagens, Chaplin intercala "takes" em que uma elipse com rodas de trem em movimento é combinada à música crescente e estridente, numa ótima solução para o filme já que as repetidas viagens representariam, se gravadas amiúde, um gasto excessivo.
Não bastando dirigir com brilhantismo o filme, escrever o roteiro - com Orson Welles - e compor a trilha sonora[!], a sua atuação merece todos os elogios. O seu gestual interpretativo, polidez, erudição, amor pela família estão entre os fatores de, mesmo cometendo várias infrações, contribuir para uma certa afeição entre a personagem e o público. Está aqui o grande questionamento do filme. Onde estaria o mal? Será que após os homicídios, quando Verdoux contava o dinheiro de suas mulheres, com uma destreza e velocidade assombrosa, alguém o repúdiou ou quis que ele sofresse alguma punição fatal ali? E sobre esse impasse é que, no final, após ser condenado, Verdoux discursa brilhantemente dizendo que a guerra foi muito mais cruel que ele, e sintetizou de forma lapidar “Se se mata um, é assassino. Se se mata milhões, vira-se herói”.
Fica justificada a indicação e a referência deste filme por, além da direção e atuação soberba de Chaplin, manter equilíbrio entre os dois pontos principais em arte para Horácio, deleitar - resultante do encantamento lúdico deste filme - e instruir - oriundo da crítica social.

Download do filme, por torrent, sem legendas, aqui: http://www.mininova.org/tor/1694813

E também, só como aperitivo, vejam o trailler do filme, aúdio em Inglês:



Bom Vídeo!

Sofista Minimus.




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1. André Bazin. Chaplin. Jorge Zahar Editora. 1992.

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